Desafios a serem compartilhados entre governos, sociedade e empresas. Oportunidades abertas a partir da organização, em especial, das cooperativas mato-grossenses. Assim foi o dia 15 de agosto em Cuiabá, durante a realização do 1º Seminário de Produção de Energia no Cooperativismo: Oportunidades e Desafios, realizado pela Organização das Cooperativas Brasileiras em Mato Grosso – Sistema OCB/MT.

O evento contou com mais de 150 participantes e teve como resultado final, a proposta de formação de cooperativas de energia fotovoltaica no Estado. “Convido as instituições financeiras que atuam em Mato Grosso e também o BNDES, a fazermos um estudo sobre a viabilidade da constituição de cooperativas de energia fotovoltaica”, propôs o presidente do Sistema OCB/MT, Onofre Cezário de Souza Filho. Diante de todas as informações levantadas durante o evento, os representantes do BNDES, Banco do Brasil, Desenvolve MT, Sicredi, Sicoob e Unicred aceitaram o desafio de discutir essa oportunidade. “Tivemos aqui abordadas, toda a leva de conhecimentos básicos necessários para a criação de uma cooperativa com essa finalidade. É perfeitamente possível esse projeto ser planejado e executado em Mato Grosso”, disse.

O Seminário foi uma oportunidade para os participantes conhecerem experiências bem-sucedidas de negócios na área de produção de energia sustentável. Prova disso foi a abordagem feita pelo presidente da Cooperativa Regional de Desenvolvimento Teutônia (CERTEL), Erineu José Hennemann. A cooperativa instalada no Rio Grande do Sul é atualmente, a maior e mais antiga cooperativa de eletrificação do Brasil. “O momento é oportuno para tratarmos de novos modelos de negócios voltados para a energia, entre ela, a renovável”, pontuou Erineu Hennemann.

Para o economista e representante da Cooperativa Brasileira de Energia Renovável COOBER Pará, Cláudio Alan de Melo Barbosa, a geração de energia fotovoltaica compartilhada possibilita a redução de até 70% no valor da energia dos cooperados. “É preciso antes de tudo rever e começar a pensar diferente sobre o que queremos para o futuro. Antes de fazer contas sobre demandas e isenções para a instalação de uma usina fotovoltaica, é preciso pensar num modelo e propor mudanças”, sugeriu o representante da primeira usina cooperativa de energia fotovoltaica do país.

As soluções sustentáveis têm conquistado espaços cada vez maiores na economia brasileira. São iniciativas que se utilizam do potencial solar, eólico, biomassa e hidrelétrico para a produção de energia renovável e as instituições financeiras disponibilizam linhas de créditos diferenciadas para as iniciativas desta natureza, seja para Pessoa Física ou Jurídica.

Prova disso foi a abordagem feita pelo especialista em Energia Renovável e analista técnico econômico da OCB Nacional, Marco Olívio Morato de Oliveira. Ele explica que a preocupação em obter um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) sustentável e um olhar especial para o futuro são os primeiros passos para se investir em fontes de energia renovável no cooperativismo.

O Seminário foi dividido em cinco painéis, onde cada palestrante dividiu com o público, experiências e conhecimentos sobre a implantação se sistemas fotovoltaicos de energia.

Painel 1

Abordando o Contexto Energético Nacional e Mato-grossense, o Ministério de Minas e Energia (MME), representado pelo diretor do Departamento de Desenvolvimento Energético, Carlos Alexandre Príncipe Pires, explicou que o grande potencial hidrelétrico do país não limita a capacidade de produção de energia solar, eólica e biomassa. De acordo com ele, apesar do crescimento registrado nos últimos anos, ainda são tímidos os investimentos em energia fotovoltaica no país, mesmo diante do grande volume de insolação presente em todo o Brasil. Para ele, investir em usinas fotovoltaicas é uma forma de contribuir com a geração de emprego e renda, estimulando o crescimento do país. Entre os investimentos do Governo Federal no setor, está a finalização do Plano Nacional de Energia e que valerá até 2050.

Carlos Alexandre Príncipe Pires, afirmou que o Governo Federal vê com bons olhos a participação do cooperativismo no setor energético e que “já existe todo um arcabouço regulatório institucional que propicia a entrada dos chamados prosumers, aqueles que ao mesmo tempo consomem e produzem, e as cooperativas têm esse perfil onde são consumidores e produtores. A tendência é a cooperativa entrar nesse processo, pois o cenário é favorável, quando sabemos que a oferta dessa matriz energética dobrou no último ano”.

Já a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), representada pelo especialista em Regulação, Felipe Alves Calabria, repassou informações a respeito da realização de leilões, construção de usinas e energia distribuída e compartilhada. Calabria, disse que a Resolução 482 da ANEEL foi o marco regulatório que permitiu aos consumidores realizar a troca da energia gerada com a da rede elétrica, criando as regras e o sistema que compensa o consumidor pela energia elétrica injetada na rede.

“Essa resolução possibilitou as cooperativas a atuar com os seus associados no setor de energia renovável e o cooperativismo tem um grande potencial nas mãos para atuar. A fonte de energia solar é competitiva e tem um grande terreno para ser explorados, nós estamos no início de uma era em que a energia solar vai ter grande penetração, e as cooperativas têm muito a contribuir na expansão dessa matriz energética”.

A Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico de Mato Grosso, representada pelo secretário-adjunto da área de Indústria, Comércio, Minas e Energia, Lucas Barros, levou aos participantes, cooperados e não cooperados, informações sobre a visão do Governo do Estado sobre a produção de energia fotovoltaica e também, sobre os incentivos ofertados, como o Programa de Desenvolvimento Industrial e Comercial de Mato Grosso (PRODEIC), que seria um modelo de financiamento propício às cooperativas, visto que oferece uma série de benefícios, com o objetivo de aumentar o desenvolvimento industrial e residencial. Ele também informou que em MT existe um projeto piloto para a confecção de placas fotovoltaicas, de forma a explorar o grande potencial solar do Estado, tanto, que em 2015, o Governo fez adesão ao convênio do Conselho Nacional de Política Fazendária (CONFAZ), para a geração de energia fotovoltaica.

Painel 2

As possibilidades de produção de energia no cooperativismo foi o tema abordado pelo analista técnico Econômico da OCB Nacional, Marco Olívio Morato de Oliveira. Ele reforçou uma das premissas do cooperativismo, que é impedir a exclusão de quem não tem escala de produção, de forma a contribuir com o desenvolvimento regional.

Painel 3

A primeira palestra do Painel 3, abordando exemplos de cases de sucesso, foi com o presidente da CERTEL, Erineu José Hennemann, que entre vários pontos e experiências, reforçou a importância da geração de energia, principalmente, diante da realidade da tarifa vermelha.

No quesito dificuldades, o economista da COOBER Pará explicou que para a implantação de usinas fotovoltaicas, é preciso se planejar principalmente, a viabilidade financeira do investimento, visto que os custos são altos, aliando rentabilidade com sustentabilidade, em especial, priorizando, o modelo de compensação de energia.

Em Mato Grosso, um exemplo bem-sucedido é o da Unimed Vale do Sepotuba. De acordo com o presidente da instituição, Ricardo Antônio Gonsales, a instalação de placas fotovoltaicas na unidade de Tangará da Serra (240 km de Cuiabá) deverá fazer com que a conta de energia mensal, que gira em torno de R$ 15 mil, seja reduzida em 100%, passando a custar R$ 120 reais, o que corresponde à taxa cobrada pela iluminação pública e à tarifa de disponibilidade, itens que não entram na taxa de compensação. Nas placas, Ricardo Gonsales explica que foram investidos R$ 600 mil que serão pagos em 50 meses. “É preciso insistir na busca por investimentos em energia fotovoltaica”, afirma.

Painel 4

No quarto módulo do Seminário os participantes tiveram acesso às informações sobre as linhas de financiamento para a implantação de usinas fotovoltaicas.

De acordo com o gerente da Área de Energia do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Rodrigo Matos Huet de Bacellar, o Brasil apresenta crescimento da matriz energética. Ele aproveitou a oportunidade para também apontar o grande potencial de MT no que tange à produção de biomassa. No quesito financiamento, ele explicou que o BNDES tem as cooperativas como parceiras no desenvolvimento social, visto que o banco disponibiliza acesso ao crédito para a produção de energia sustentável.

No caso do Sicoob, representado pelo assessor de Negócios com Foco no Agro, Orleans Cichaczewski, a cooperativa de crédito informou que o sistema tem recursos para financiar equipamentos tanto para pessoas físicas quanto jurídicas.

No Banco do Brasil, as oportunidades também se repetem, visto que o banco possui até mesmo, um programa juntamente com parceiros, como o Sebrae, que incentiva a produção de energia fotovoltaica.

Em nível estadual, de acordo com o direto de Projetos e Prospecção, João Alexandre Gebara Júnior, o Governo disponibiliza crédito por meio do Desenvolve MT, com foco no fomento de negócios e desenvolvimento do mercado.

Já o Sicredi, o Sistema de sustentabilidade funciona como política da cooperativa. De acordo com o consultou de Negócios, Osvaldo Fioravante Biazi, o Sicredi tem como foco, participar efetivamente do desenvolvimento das comunidades e por isso possui linhas de créditos para a produção de energia renovável, além de um consórcio sustentável voltado às pessoas físicas e jurídicas.

Finalizando o quarto painel, a Unicred MT abordou a personalização e a exclusividade de atendimento aos médicos, profissionais da saúde e empresários cooperados com o sistema. O Sistema Unicred MT também possui várias linhas para a modalidade de energia renovável.

Painel 5

Encerrando o 1º Seminário de Produção de Energia no Cooperativismo: Oportunidades e Desafios, o Sistema OCB Nacional e o Sistema OCB/MT reforçaram a importância do cooperativismo em contribuir com a relação econômica de consumo com ganho de escala, que acontece quando as pessoas deixam de fazer sozinhas para produzir juntas, adquirindo força no mercado.

O representante do Sistema OCB, Marco Olívio Morato de Oliveira, concluiu dizendo que “o Seminário foi muito bom e fiquei muito feliz. Essa matriz energética caiu com uma luva para o cooperativismo, e vimos durante o evento o interesse dos participantes, que lotaram o auditório”. Oliveira analisou que “a região de Mato Grosso tem um potencial enorme para energia renovável, pois tem sol e relevo muito favoráveis e uma grande demanda de energia. Duas coisas tão importantes que juntas se completam, onde de um lado tem a equidade do cooperativismo e do outro a energia renovável. É um desenvolvimento realmente sustentável”.

A organização se colocou inteiramente à disposição dos cooperados como apoiadora e estimuladora da adoção de fontes de energia renovável em Mato Grosso. “O Sistema OCB/MT está à disposição para receber e atender todas as cooperativas ou grupo de pessoas que queiram formalizar uma cooperativa para a produção de energia fotovoltaica”, encerrou o analista de Monitoramento da OCB/MT, Tiago Assis.

O presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras de Mato Grosso – Sistema OCB/MT – Onofre Cezário de Souza Filho, disse que a proposta do Seminário foi alcança, ponderando que “foram discutidos todos os pontos para formar uma cooperativa de infraestrutura para produção de energia renovável. Eu acredito que cumprimos nosso compromisso”. O presidente acrescentou que “temos muitos desafios e oportunidades pela frente, e agora esperamos a ação por parte das pessoas que quiserem trabalhar com energia renovável nesse modelo de organização econômica. A OCB/MT está à disposição para contribuir com os esclarecimentos necessários”.

Fonte: OCBMT

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